Por reflexo
Toda vez que as estações eram anunciadas eu sentia o coração descompassar.
Sabia que a cada estação eu me aproximava mais daquela.
De todas as variáveis, por quê justamente àquela hora, àquele dia, ela entraria no vagão em que eu me encontrava?
A angústia causada espremia todas as possibilidades: é neste vagão que ela entrará.
Quando por fim o trem parava, eu virava para o outro lado, eu olhava para os pés, para alguém, para algum lugar tão longe na paisagem que minha visão embaçava.
Tampouco conseguia fechar os olhos.
Pessoas entravam, outras saíam, e eu era inteiro ansiedade.
Só voltava as vistas para a plataforma quando ela já estivesse borrada pelo movimento.
Segura.
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Nota de texto encontrada num celular meu de 2012.